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quarta-feira, maio 27

SOBRE RESISTÊNCIA



Qualidade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo. / Aptidão para suportar a fadiga, a fome, o esforço / Defesa contra um ataque / Oposição, reação, recusa de submissão à vontade de outrem / Força que se opõe ao movimento; inércia. / Organização que, num país ocupado por forças militares estrangeiras, reúne civis e militares empenhados em combater o inimigo com ações de sabotagem, guerrilha etc / Eletricidade. Quociente de uma diferença de potencial aplicada às extremidades de um condutor pela intensidade da corrente que ela produz quando o condutor não é dotado de força eletromotriz / Condutor elétrico do qual se utiliza especialmente a resistência / Centro de resistência, agrupamento das organizações defensivas de um batalhão articulado em pontos de apoio. / Prato, peça de resistência, prato principal de uma refeição / Resistência do ar, força que o ar, mesmo imóvel, opõe ao deslocamento de um corpo, particularmente de um projétil / Construção. Resistência dos materiais, ciência que tem como objetivo determinar as dimensões dos elementos de uma construção para que possam resistir à tensão que terão de suportar / Resistência passiva, a que se faz sem revide, sem apelo à violência.


Identidade Nacional



Sem-teto, sem pertencimento ou
como a elite brasileira produziu
ideologicamente a grande tribo
dos excluídos brasileiros


Carlos Bauer

Doutor em História pela USP

Professor do Centro Universitário Nove de Julho – Uninove

A sociedade brasileira experimenta hoje um processo de maturação o que expõe, de forma acentuada, quando não dramática, suas principais contradições. Dentre elas, as insistentes e reiteradas tentativas para esconder os excluídos, abafar os ex-escravos e exilá-los nos morros e favelas, submeter ao silêncio os homens brancos e pobres, prender os sem-terra e os sem-teto, transformando todos em personagens que precisam ser reeducados, quando não os reduzindo à condição de marginais e indigentes que precisam ser assistidos pelos serviços de segurança pública e social. Mas, eles estão em cena, não se deixando estigmatizar e reivindicando um lugar na história, suportando as mais sórdidas condições de existência, os limites impensados da miséria e dizendo que, também, fazem parte da nação.

Para melhor entender como se produziu a exclusão social no Brasil, veja como suas elites conservadoras e autoritárias pensaram a idéia de nação.

Desde há muito tempo, vem sendo discutido se existe ou não uma identidade brasileira. Fora dos discursos triunfalistas, próprios das datas comemorativas e dos percalços da xenofobia, as repostas são principalmente negativas.

As formas pelas quais as elites projetaram e implementaram a construção da identidade nacional são, numa perspetiva histórica, uns obstáculos à construção de uma identidade comum não excludente, não marcada pela segregação e pelo reconhecimento afirmativo do multiculturalismo presente em nosso processo societário.


A nação foi pensada como uma fraternidade cristã, uma comunidade democrática (econômica, política e racial) e sem contradições. Este posicionamento ideológico não foi capaz de mascarar a realidade e, mesmo submetidos a mais profunda e sórdida exclusão, surgiram diversificados grupos concorrendo com as elites na construção dos valores nacionais.

Na segunda metade do século XX, toda a história do Brasil transcorreu em torno desta dicotomia. Não faz mais do que duas ou três décadas e muitos intelectuais acreditavam que os valores do nacionalismo, que a elite brasileira produziu com base na exclusão, estavam consolidados e que, quaisquer outras perspectivas, nem mesmo existiam.

Com o desmoronamento do regime militar, instaurado de forma golpista e pela força em 1964, foi necessário reorganizar o pensamento, foi necessário reorganizar a vida social com base em novos protagonistas que entraram em cena e que, com suas lutas e perspectivas de organização política, rearticularam a sociedade civil. Antigos ativistas políticos e sindicais, perseguidos nos idos das décadas de 1960 e 1970, transformavam-se em ocupantes privilegiados das principais instituições nacionais.
Este quadro é novo e povoado de contradições. Isto nos permite dizer que a construção de uma identidade nacional encontra-se totalmente em aberto. A elite brasileira, formada em torno de valores autoritários e conservadores, produziram uma nação povoada por sem terras, sem tetos, sem renda, sem cultura e educação, sem trabalho e esperança. Como vislumbrar que um homem que não tem nem mesmo um teto que lhe possa abrigar contra intempéries que a natureza produz, aspire pertencer a uma nação?

A cidadania não existe para milhões de brasileiros, excluído das mais elementares condições de vida e submetidos as mais sórdidas das explorações. Logo, não se pode falar em identidade nacional.

terça-feira, maio 26

Corpografia do Terror












Os corpos da segunda guerra mundial.
Os gestos, posicoes-limite, condicao exposta.

Os judeus quando reconhecidos eram trazidos para a rua com uma placa afixionada no corpo. Os culpavam de sujos, ilegitimos, despreziveis, como uma praga da raca humana. Eram os enganadores, inimigos do sistema e do povo alemao.

Eram expostos por serem um tipo de pessoa que nao os de raca pura,
pureza determinada por alguns, imposta por um poder dominador.

Esses homens e mulheres eram humilhados na frente de todos:
fotografados, sacrificados, eliminados social e humanamente. Alguns eram montados ou atrelados a animais e desfilavam pela cidade como traidores, uma vergonha apenas por ser o que eram.

As mulheres acusadas de trair os maridos, eram expostas com a placa onde se lia o delito cometido. Tinham os cabelos cortados como forma de violencia maior a uma mulher, depenadas de suas vaidades femininas.

Homens eram enforcados coletivamente como um espetaculo publico, um coro desgraçado na mise-en-scene da perversidade.

Os corpos se amontoavam em vagoes de trens, em comodos coletivos e finalmente no banho fatal na camara de gas. Eram organizados em lotes, filas, pilhas de cadáveres em pe. Restos, numeros, bichos que deseminavam praga, lixo humano.

O corpo no centro de um espetaculo sordido e cruel, atingido na potencia do ser e do estar. Arte performatica da existencia, banalizacao da carne, ritual do terror.

(Fotos da visita a exposicao "Topografia do Terror", nas ruinas do Quartel General Nazi, em Berlim na Primavera de 2009)

segunda-feira, maio 25

CAN'T BUY ME LOVE



Eu não sou homem
Não sou brasileiro
Não sou estrangeiro
Não sou heterossexual
Não sou um animal exótico

Eu não sou branco
Não sou artista
Não sou publico
Não sou rico
Não sou famoso

Eu não estou em extinção
Não tenho nome
Não tenho deus
Não tenho partido político
Não tenho direitos

Eu não sou você
Não sou parte da sua imaginação
Não sou sólido
Não sou eterno
Não estou aqui
Não estou morto



Eu não sou confiável
Não sou amável
Não sou bonito
Não sou simpático, alto, magro, sarado
Não tenho um sexo que mede 26 centímetros

Eu não estou do lado de dentro
Não sou alegre
Não sou conformado
Não sou serio
Não tenho verdade

Eu não tenho trabalho
Não tenho descendência
Não tenho governo
Não tenho estado
Não tenho nada o que fazer

Eu não sou especial
Não sou casado
Não sou formado
Não sou capado
Não sou o que fui
Não serei nada mais do que isso



Eu não sou funcionário publico
Não sou cientista
Não sou filosofo
Não sou grego
Nao sou baiano

Eu não tenho fala
Não tenho voz
Não tenho aposentadoria
Não tenho plano de saúde
Não tenho orkut

Eu não sou um objeto
Não sou novo
Não tenho passaporte
Não tenho cartão de credito
Não tenho escolha

Eu não sou uma marca
Não sou um ídolo
Não sou um alvo
Não sou carnívoro
Não tenho casa
Não tenho frio



Eu não tenho órgãos
Não tenho visa
Não tenho memória
Não tenho senso do ridículo
Não tenho medo

Eu não tenho norte
Não tenho comunidade
Não tenho moral
Não tenho promessa
Não tenho certeza

Eu não tenho religião
Não tenho salvação
Não sou criança
Não sou cego
Não tenho onde cair morto

O DESEJO DE IMAGENS NO COMERCIO DO MUNDO















Tomemos inicialmente as lojas de artigos de luxo fotografadas em Paris, na rua Saint-Honoré e em Saint Germain, ou ainda os novos shopping centers de metal e vidro ou os luxuosos hammams [casas de banho] de Ramallah, em território palestino. Objetos visíveis demais, não contrastados, apresentados de maneira similar, numa supremacia desmesurada do cenário, por vezes na "perfeição" de sua arquitetura, na tirania de suas formas purificadas. Mas no fundo, por trás da fascinação do belo objeto, há o espectro da cidade, aqui invisível. O enquadramento deixa de lado a maravilhosa confusão da cidade e exacerba a doce violência do comércio do mundo, a uniformidade das práticas de consumo no interior de espaços desencarnados.











Pois afinal nada é realmente diferente nos novos shopping centers internacionais, de Paris a Jerusalém e até Ramallah. O comércio é um mercado global e será fácil constatar que de Paris a Ramallah, terra no entanto arrasada, os citadinos compartilham o desejo de imagens, o mesmo desejo de consumo globalizado, desejo de "fazer parte do mundo". E são as mesmas arquiteturas internacionais que poderão ser encontradas em determinados locais do mundo que não são Berlim, na Europa, mas Ramallah, na Palestina, onde vivem elites transnacionais "entre dois mundos". Uma cultura global reinterpretada aloja-se nos territórios abertos ao capital e ao comércio, seguindo as lógicas urbanas, e faz emergir usos e formas urbanas que não são populares, tradicionais, mas remodeladas de acordo com os desejos universais. Evidentemente, essas novas atitudes urbanas não são sistemáticas e não se repetem para além dos locais designados da modernidade: o shopping center urbano, os hammam de primeira linha, as residências de luxo de Jerusalém às portas da Cidade Antiga e, mais surpreendente, de Ramallah, destinadas aos mesmos usuários transnacionais, sejam eles judeus ou árabes.









Lojas e outros espaços da vida cotidiana, de consumo e de cultura, deixam-se ler através do filtro das economias atuais, da circulação das idéias ou do capital. Mas o "belo" objeto pode evocar signos históricos, um dever de memória incorporada ou reatualizada numa arquitetura local mais ou menos erudita e sofisticada. O empreendimento arquitetônico operante nos museus, nas residências de luxo, lojas e outros objetos urbanos contém uma carga temporal: a da comemoração - como no Museu Judaico de Berlim, projetado por Daniel Libeskind, e no memorial de Yad Veshem em Jerusalém, dedicado ao Holocausto - e a da nostalgia patrimonial, que passa pela reabilitação de ruínas, transformadas em locais de consumo universais.













LE HAVRE, BERLIM, JERUSALÉM:
A CARTOGRAFIA DO MUNDO1


Sylvaine Bulle

traduzido do francês por Regina Salgado Campos

domingo, maio 24

Primeira Expo-Cu - Meu-Cu

Cu também é cultura, de acordo com uma Galeria de Arte de Paris.







O Cu e' o que nos une a todos numa condicao unica.
Cu todo mundo tem.

Photos > Thanks to Jana Lobo.

sexta-feira, maio 22

ITENS DE PRIMEIRA/necessidade







Dou voltas no titulo.

Penso consideravelmente nessa coisa de nomear as coisas, dar nomes, institucionalizar de certa forma dirigindo a atenção para uma palavra, ou um arranjo delas, uma combinação que seja banal, inesperada, forjada, tirada do corriqueiro, carne de vaca.

As vezes antes mesmo de que as coisas existam, para faze-las existir talvez, abrindo uma picada incerta no meio de um processo de deixar chegar o que tiver que vir.

Os títulos me dão medo, pelo que encerram em si de potencia, como uma responsabilidade assinada de encontrar. Os títulos me dão profunda insegurança, vertigem que desaba pelo simples sentido de nomear, de fazer algo surgir graficamente, sonoramente, algo empanturrado de sentidos, pequenos fragmentos de consciência, que acabam por se manter.

Tento a idéia de aleatoriedade, de como na verdade as escolhas são aleatórias, como os signos, as palavras, os derivados de significado delas, e toda a construção do mundo que dado ou não uma forma, e’ o mundo que existe pra cada um.

Penso em coincidências, intuição, insight e metáfora.

Talvez coincidências sejam conjunções da aleatoriedade, e metáforas coincidências programadas. Talvez intuição seja um sistema de coincidências dentro da aleatoriedade, e insight seja pura distração.

Brinco de quebrar as palavras do titulo que ainda não me convence, me confunde mas do que me direciona, e talvez tenha que passar mesmo por ai a equação.

Quando era criança e por muito tempo eu gostava de brincar de separar as letras das palavras em blocos, ou pares, em linhas verticais e horizontes, gostava de organizar palavras e frases como quem arruma objetos em um lugar. Arrumava na minha cabeça, ou as vezes usava a ponta do dedo como um lápis e escrevia essas divisões aleatórias em qualquer superfície que encontrasse, escrituras invisíveis que me perseguiam sempre.

Confesso que ate hoje ainda faço isso normalmente, e quando se trata de títulos, esquadrinho letra por letra, ate ordena-los numa tabela gráfica, em um mapa mental.

Um titulo talvez tenha que ser um álibi, uma pista apagada, o crime que não deixa marcas. Talvez não exista uma lógica para que as coisas se chamem como se chamam, talvez possam vir a se chamar de outra maneira mesmo que se chamem assim.

Divido o titulo em ITENS DE PRIMEIRA, usando a barra / para separar de NECESSIDADE. São coisas distintas, e a palavra necessidade ai sozinha me remete a uma das ultimas criações do Dominique Bagouet, coreógrafo francês que morreu ainda jovem no inicio dos 90.

A obra se chamava NECESSITO e ate hoje não sei o que realmente me impressionou naquela obra, porque não foi gostar ou desgostar, ou algo incrível que me tenha chamado atenção. Era so uma espécie de “necessito”, uma necessidade básica que mais do que dar formas a aqueles corpos que dançavam tão tecnicamente, era como o coreógrafo dizendo baixinho ali por trás, necessito.

E necessitar vem antes de querer, mais forte do que desejar, vem do corpo sem forma e ainda sem conexão com algo reconhecível.