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sexta-feira, maio 22

ITENS DE PRIMEIRA/necessidade







Dou voltas no titulo.

Penso consideravelmente nessa coisa de nomear as coisas, dar nomes, institucionalizar de certa forma dirigindo a atenção para uma palavra, ou um arranjo delas, uma combinação que seja banal, inesperada, forjada, tirada do corriqueiro, carne de vaca.

As vezes antes mesmo de que as coisas existam, para faze-las existir talvez, abrindo uma picada incerta no meio de um processo de deixar chegar o que tiver que vir.

Os títulos me dão medo, pelo que encerram em si de potencia, como uma responsabilidade assinada de encontrar. Os títulos me dão profunda insegurança, vertigem que desaba pelo simples sentido de nomear, de fazer algo surgir graficamente, sonoramente, algo empanturrado de sentidos, pequenos fragmentos de consciência, que acabam por se manter.

Tento a idéia de aleatoriedade, de como na verdade as escolhas são aleatórias, como os signos, as palavras, os derivados de significado delas, e toda a construção do mundo que dado ou não uma forma, e’ o mundo que existe pra cada um.

Penso em coincidências, intuição, insight e metáfora.

Talvez coincidências sejam conjunções da aleatoriedade, e metáforas coincidências programadas. Talvez intuição seja um sistema de coincidências dentro da aleatoriedade, e insight seja pura distração.

Brinco de quebrar as palavras do titulo que ainda não me convence, me confunde mas do que me direciona, e talvez tenha que passar mesmo por ai a equação.

Quando era criança e por muito tempo eu gostava de brincar de separar as letras das palavras em blocos, ou pares, em linhas verticais e horizontes, gostava de organizar palavras e frases como quem arruma objetos em um lugar. Arrumava na minha cabeça, ou as vezes usava a ponta do dedo como um lápis e escrevia essas divisões aleatórias em qualquer superfície que encontrasse, escrituras invisíveis que me perseguiam sempre.

Confesso que ate hoje ainda faço isso normalmente, e quando se trata de títulos, esquadrinho letra por letra, ate ordena-los numa tabela gráfica, em um mapa mental.

Um titulo talvez tenha que ser um álibi, uma pista apagada, o crime que não deixa marcas. Talvez não exista uma lógica para que as coisas se chamem como se chamam, talvez possam vir a se chamar de outra maneira mesmo que se chamem assim.

Divido o titulo em ITENS DE PRIMEIRA, usando a barra / para separar de NECESSIDADE. São coisas distintas, e a palavra necessidade ai sozinha me remete a uma das ultimas criações do Dominique Bagouet, coreógrafo francês que morreu ainda jovem no inicio dos 90.

A obra se chamava NECESSITO e ate hoje não sei o que realmente me impressionou naquela obra, porque não foi gostar ou desgostar, ou algo incrível que me tenha chamado atenção. Era so uma espécie de “necessito”, uma necessidade básica que mais do que dar formas a aqueles corpos que dançavam tão tecnicamente, era como o coreógrafo dizendo baixinho ali por trás, necessito.

E necessitar vem antes de querer, mais forte do que desejar, vem do corpo sem forma e ainda sem conexão com algo reconhecível.

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