BOTTLE $ BALLON 09:31

esses itens sao muito mais internos, implicacoes mentais e do corpo....

(extrato de uma conversa no msn)

Impossivel se pensar realisticamente a ideia de territorio democratico.
Talvez melhor pensar em territorios do meio, onde se e' e nao e' ao mesmo tempo, onde se transita sem sair do lugar.
Ida e volta a lugar nenhum.
Esses territorios acabam por passar a existir no interior, na dimensao do que aceitamos como nossa realidade, nossa maneira de estar aqui, se dando conta disso.
Entao os espacos exteriores poderiam ser vistos com projecoes desses espacos internos, como consequencias exteriores de algo que se da em cada um, segundo suas necessidades, sua configuracao de mundo.
o primeiro mundo e' incrivelmente diferente do terceiro mundo.
Quais sao seus itens de primeira necessidade?

Burkas Assassinas 14:10

Um amigo me contava da situação entre os holandeses e os turcos, com respeito a toda uma geração adulta de turcos nascidos aqui, falando fluente o holandês e tendo todos os direitos de qualquer cidadão. Essa e' a geração do "meio", a que nao e' nem uma coisa nem outra, sendo as duas e nao deixando de ser nenhuma. Segundo os especialistas para uma cultura se "misturar" eficientemente com a outra e' preciso 4 gerações. Eles estão aqui na de numero 2.

As mulheres turcas, principalmente as usando Burkas, sao vistas agora como uma ameaça, como se fossem armas afrontando justamente esse choque de culturas, onde ainda persistem leis de dominação. Burkas bombas subjetivas, afrontando uma maneira de organizacao do mundo.
O corpo que esta no entremeio e' o corpo excluído nao apenas como pobre, desenvolvido, um corpo auslander, mas um corpo que resiste e ameaça, um indivíduo que marca território com o próprio corpo e uma maneira distinta de apresentação dele.

As salas de reunioes da prefeitura municipal no centro da cidade, sao salas multicoloridas com enormes janelas dando toda a visao pra fora, com mesas e cadeiras chiques, de primeiro mundo. Conceitualmente foram pensadas para serem lugares harmonicos e aberto a todos os cidadaos da cidade, dando a ver o que se passa ali.
Uma turca jovem que caminha com alguns amigos na minha frente, vendo as salas-vitrines diz: - uohh...parecem macacos na jaula!

E na verdade pareciam mesmo, macacos adestrados, treinados para algum fim.

Uma mulher paga a conta do supermercado com seu cartao magnetico antes da compra ser computada.
Todo mundo anda na bicicleta falando ao telefone.
O telefone se transformou numa maneira eficaz e segura de nao nos deixar sozinhos, de nos manter conectados, queridos e importantes, amados.
As salas de teatro estao cheias, as programacoes sao muito bem feitas, inteligentes e lindas.
O mundo do espetáculo se emaranha na teia do agora, do mais imprescindível de todos os males, o agora!

Quais sao seus Itens de Primeira Necessidade?

ITENS TEXTS - A Loba 15:51

A loba. A imagem da loba que alimenta os gêmeos rumulo e remo - filhos de Marte, o Deus da guerra, segundo a mitologia – em uma caverna. Os gemes foram os fundadores de Roma, de um império que construiu uma civilização, na qual ainda vivemos de muitas maneiras sob essas regras éticas e estéticas que a fazem uma civilização.

A Loba do Café espresso Lavazzo e’ uma modelo linda, seminua contra o fundo do Colisseu, com duas crianças também fotografadas como modelos, dirigidas em uma expressão de abandono e desejo. A Loba tem uma xícara de café sutilmente mostrada na mão direita e tem as outras três patas apoiadas no chão. As crianças estão embaixo do corpo dela, como sendo amamentadas. O corpo seminu esta coberto por uma pele, possivelmente algo verdadeiro e raro, uma pele que deve valer muitos dólares.

Me impressionou a fusão de tantos elementos. O berço da civilização, o arcaico, o ainda bruto, a fome e o desejo, a aberração da situação de uma mulher-lobo amamentando, o glamour da foto, o design, o conceito e a estratégia eficiente para se vender um produto.

(Aeroporto Schipol - Amsterdam - Janeiro 2009)

CON!!!!GELADO!!! 12:39

De volta aos paises planos, cobertos de neve e com os canais congelados.
De volta a supermercados cheios de gente bonita, agua na boca pras pessoas, queijos, saladas, vinhos, iogurtes e chocolates.

Vista da janela da minha casa, canal congelado parecendo um desses drinks de terras exoticas.
A cidade fica mais silenciosa e a luz refletida no gelo da um efeito cinematografico.

estar entre, entre lugares, entre situacoes de um corpo entre duas dimensoes termicas, o tal entre que a Helena me falava com intuicao aguda.

escrevo um email aos amigos brasileiros daqui:

queridos

cheguei ontem, estou aqui.
sem telefone e morando numa casa que nao e' minha, mas o endereco confere e a chave tbem.
o casal de amigos que ficou aqui realmente ficou bem a vontade.
mas ok.

Assim que tiver telefone ligo, e os que passam pelo prinsengracht sao bem vindos a passar.
Se vierem tragam um forno microondas (que nao sei onde ta o meu) para me colocarem dentro por alguns minutos no mode descongelar.
Gente, eu to gelaaaado, meu corpo nao ta entendendo o que diabo de frio e' esse.

Mas to chegando tranquilo, querendo estar aqui um pouco.
comeco a dar aulas na escola amanha.

Que bom ta aqui e poder ve-los.
desculpa pelo email conjunto, a gente sabe que o que um tem com o outro e' unique, absolutamente especial em si mesmo.
vamos nos ver.

beijos,

marcelo.

E os Cisnes apareceram ontem na minha janela, silenciosos em uma fila de cinco elegantemente coreografada.


Quais sao seus itens de primeira necessidade?

transito > turbulencias leves sobre o atlantico 09:12

Jacira in the sky with diamonds 09:43

C'est Toi! 19:16

Exercicios de Photoshop 17:38

(Click na Imagem para Ampliar)

No recesso de fim de ano, entre um banho de mar, uma caminhada, e um cochilo demorado numa rede, resolvi abrir o photoshop - que andava mais do que abandonado - e encarar de aprender a usar de alguma maneira essa ferramenta.

Ajudado pela Lulu, me meti na frente daquele bicho de 7 cabecas, so intuindo as funcoes daqueles icones quase infantis, que as vezes disparavam na minha mao como arma carregada, sem que eu tivesse a menor nocao de como parar, retroceder, sair da enrascada na qual eu tinha me enfiado.

A ideia de aprender e' facinante no sentido de abrir outros espacos para a tua representacao de mundo, para que voce diga aquilo que quer dizer de outras maneiras, e isso acaba modificando completamente aquilo que quer ser dito em si mesmo.
Eu diria que aprender seria adquirir novas possibilidade, e a idéia de uma possibilidade nova no teu corpo, no teu domínio, te traz ainda mais próximo da idéia de resistência, sobrevivência, operacionalidade, poder e satisfação consumada.

Fico pensando em tudo o que ainda nao sabemos - e certamente nao sabemos muita coisa e nem vamos saber tudo mesmo - e na dificil tarefa de escolher o que saber, o que aprender, entre tantas ofertas disponiveis em um mundo que nos exige cada vez mais saber, saber, saber para nao sermos descartados, jogados pra escanteio.

Talvez a ação de aprender tenha que estar cada vez mais relacionada aas nossas necessidades, e para isso temos que saber de antemão reconhecer essas necessidades, e mais importante, separa-las de nossos desejos, nossas ambições e daquilo que a sociedade espera de nos. Necessidade tem que estar no próprio corpo e se manifestar insistentemente nele, como a fome, a sede, o sexo, o sono. Mas como somos animais humanos ditos superiores pela inteligência, agregamos ou dissimulamos essas necessidades ao longo de nossas vidas, acabando por disfarca-las, maquia-las e nao lhes dar a importancia devida.

Fica ai esse entrançado para ser pensado. E me pergunto se nao seria talvez apenas aprender a aprender, simplesmente, o aprendizado do aprender, como ação em si.

Essa imagens sao meus primeiros exercicios toscos, viva o tosco! Thanx Lulu!

La Pija que Baila * 20:43

MONO foi um estudo começado despretensiosamente no inicio de 2008.
Nesse mesmo ano tive a oportunidade de testa-lo de diferentes maneiras em diferentes salas, estados do Brasil e paises, em situações as mais variadas.

Os comentários foram muitos - não tentando otimizar ou desconsiderar as reações - mas fica claro pra mim que o importante mesmo de uma obra são as visões, os espantos, as reclamações e sublimações quê se faz dela.

De deus a patrão, de adão a fascista, de desesperado e perverso a infantil, desamparado ou homem-mãe.

Ouvi de tudo.

Mas o mais curioso foi de quando apresentado em Montevideo no diálogos Uruguay, uma instancia pensada para que se discuta obras, procedimentos, ferramentas, processos e resultados de pesquisas do/no corpo.
Na “desconstrucao” do dia seguinte da apresentação, onde se reuniam os criadores com a presença de teóricos para destrinchar a obra, ouvi os comentários mais curiosos e estonteantes, que agora me fazem pensar, mas na hora me deixaram bem puto, e calado pelo resto dos diálogos.

Um coreógrafo venezuelano trouxe o assunto de etnia colocando que todas as bonecas eram brancas manipuladas por um homem branco. Mas disse não se incomodar mas, quando percebeu “uma pija negra” referindo-se ao meu sexo como algo mestiço, de outra etnia, comprovando a miscigenação do brasileiro e trazendo para a cena outra raça
.
Huuum.... tai que fiquei sem saber o que dizer, pensando naquela opinião tirada la do âmago, em espanhol profundo.
Pensei rapidamente ainda um pouco incomodado. Sei, o cara ta vendo o corpo em partes, camadas, como capas dessa mestiçagem. Algo antropológico, se você quiser place it somewhere.

5 minutos depois o teórico argentino saiu la de cima de sua superioridade de teórico (argentino!) e disse que a peca era fascista, um homem vivo manipulando uns iguais, fazendo deles o que quisesse, colocando a questão da morte como conseqüência disso. O animado que manipula os inanimados, a propagação da morte em extermínio.

Ate ai tudo bem, era novo pra mim, mas realmente nunca pensei na morte como resultante, apenas como participante dessa realidade imaginada que pretende se parecer com o mundo.

Pra reforçar e explicar sua teoria, o teórico caiu na asneira de baixar o nível total, fazendo ares de palhaço contratado:
“Um homem com uma pija....(ai fez pausa de suspensão) ... e uma pija graaaande (assim mesmo acentuando os as da palavra).

Falava como se o tamanho do sexo tivesse sido o ponto de partida, usado como artifício teatral pensado.

Eu não acreditei! E se agora dou risadas, no momento me senti estuprado, pego a forca, violado de maneira grosseira, puto com o tal teórico maricon, veado mesmo pros aqui da terrinha.

Nunca pensei quê se pudesse chegar a tal nível de percepção pseudo psicanalítica, pra esconder algo de pessoal, uma perversão absolutamente particular nada relacionada com a questão dos diálogos.

E então?
vale tudo mesmo nessa idéia de exercício critico?

* A pica que dança

< Photos Ezequiel Steinman e Paula Giuria >

VIVER SEM INTERRUPÇÃO 14:43

Abra uma gaveta e revire os objetos mudando os de lugar ocasionalmente.
Vá de um lugar a outro varias vezes e observe as diferenças nesse mesmo percurso.
Deite no chão e se espreguice longamente, como uma dança. Não pense na forma, mas na sensação de uma dança.
Se estiver na praia de um mergulho demorado no mar e tente se deixar boiar e ser levado pela corrente. Faca uma caminhada de alguns quilômetros pisando firme no chão com o pe inteiro e olhando na altura do horizonte.
Faca um movimento desordenado, uma ação sem propósito, algo que lhe venha sem pensar, ditado pelo corpo sem vigilância.
De um oi e um sorriso para alguém na rua, mesmo que essa pessoa pense que você a esta seduzindo.
Experimente ter uma sensação diferente fazendo uma coisa que você faz diariamente.
Pense em algo ou alguém que não vem a sua cabeça a muito tempo. Você deve saber que memórias não existem no passado, se tornam presentes no momento que são (novamente) acessadas.
Balance a cabeça de um lado pro outro o mais rápido que puder e depois olhe o espaço a sua volta.
Pule um obstáculo em sua casa - por mais simples que seja essa ação - ou desvie bruscamente de um móvel, testando sua capacidade.
Feche um olho e tente mirar um ponto distante, querendo acerta-lo com o olhar.
Cante uma musica em inglês, mesmo que você não saiba falar essa língua, ou em finlandês, se você souber falar inglês.
Compre um livro de capa bonita, mesmo que saiba que não vai ler, e durma com ele debaixo do travesseiro.
Escreva de lápis na parede do seu quarto a primeira coisa que vier a sua cabeça.
Pense numa palavra que conhece mas não sabe o significado e procure no dicionário. Procure tambem o significado de uma palavra que você ta cansado de conhecer.
Repita de varias maneiras o nome de alguém que você gosta, ate deixar virar uma canção. Faca isso depois com alguém que você não gosta e sinta a diferença no seu corpo.
Declare-se gravemente doente em um dia de trabalho só pra ficar o dia todo na cama. Não revele a ninguém o seu segredo.
Se imagine no meio de um campo de futebol decidindo uma copa do mundo. Chute, drible, grite e marque uma falta pra – você mesmo - cobrar um pênalti.
Viva sem interrupção no maravilhoso desse tempo-espaco absolutamente descontinuo, e se nada disso fizer nenhum sentido, melhor ainda.

(para Simone de Beauvoir)

2009
com corpo são
mente quieta
bons trabalhos
muitas alegrias
e todo o amor que você puder receber.