QUARTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2008
"A idéia de coletivo traz várias discussões interessantes na sua definição, que pode ser de autonomia, sustentabilidade e organização. Mas pra mim, a principal delas é a colaboração entre os artistas e que juntos possamos produzir uma reflexão". Com essas palavras, o coreógrafo piauiense Marcelo Evelin, coordenador do Núcleo de Criação do Dirceu (Teresina) e radicado na Holanda (professor da Escola Superior de Dança de Amsterdan), definiu a estadia dele durante dois dias em Votorantim. Ele esteve na cidade na quarta e quinta-feira a convite do Coletivo local "o12" e firmou uma parceria entre Votorantim e Piauí.
A parceria vai possibilitar que artistas piauienses, do Núcleo do Dirceu e os de Votorantim, do "o12, façam um intercâmbio e juntos, tanto em solo votorantinense como em Teresina, possam produzir diversas reflexões. De acordo com Thiago Alixandre, do "o 12", esse intercâmbio, que deve começar com os votorantinenses indo a Piauí em agosto, vai servir para troca de informações, estimular a convivência e cada um irá demonstrar suas intervenções artísticas junto à comunidade. "Nos temos aqui várias ações, como no terminal de ônibus e nas vitrines das lojas e queremos colocá-las em prática lá no Piauí e também queremos ver as acões deles também. Será teoria e prática".
E essa quebra das fronteiras das barreiras do teatro, com intervenções em locais públicos, também interessa Evelin. E foi um dos grande propulsores, não ‘único, do estreitamento entre os piauienses e os votorantinenses que começou em maio deste ano, no "Coletivo Corpo Autônomo", do Itaú Cultural, ocorrido em São Paulo. O coreógrafo explicou que o Núcleo do Dirceu realiza diversas ações junto à comunidade, algumas inclusive sem que as pessoas tenham noção de que estão participando de uma ação artística. Para ele, este tipo de representação traz o inustitado da arte, e que as pessoas participem, sem que sabiam que entraram em contato com a ação cultural. "Temos muitas coisas em comum com o "o12", já que a faixa etária dos nossos alunos são muito próximas. Mas como sou curioso, vim atrás desse frescor comum em coisas novas. Eles foram muito corajosos pela busca da autonomia".
E essa coragem também faz parte do Núcleo do Dirceu, já que Evelim saiu de Amsterdam, Holanda, para assumir o trabalho na periferia de Teresina, num local, segundo ele, carregado dos piores estereótipos, como criminalidade, auto-estima baixa e pobreza. Marcelo citou que de primeiro momento, as pessoas até questionaram sua sanidade, já que ele deixou a europa pra viver na periferia de Teresina. "Diziam que eu estava louco, como poderia ter deixado a europa pra viver na periferia do Piauí, local esteriotipado como violento, pobre e com pessoas, devido a este estigma, com a auto-estima baixa. Diziam que logo me levariam pra um teatro no centro, mas sempre disse que aceitei o convite por querer trabalhar ali naquela periferia e não no centro ".
Os votorantinenses do "o12", já neste primeiro encontro, aproveitaram do renomado coreógrafo e juntos criaram reflexões que serão utilizadas no próximo espetáculo do coletivo local. Conforme Alixandre, o "Quando Desprendem as Partes" possue várias ações, como ação vídeo, ação terminal, ação flyer, ação vitrine e ação espetáculo e está no aguardo de aprovação de edital no Minc (Ministério de Cultura). O "o12" atualmente tem apoio da prefeitura de Votorantim, através da Secretaria de Cultura e também da Academia Interação, já que fazem treinamento físico para bailarinos. "Descobri ainda que Votorantim tem mais uma similaridade com o Dirceu (bairro de Teresina), já que também se desmembrou de outra cidade. O Dirceu vai passar por essa fase e o bairro possui quase 1/3 da população de Teresina, com 250 mil moradores de um total de quase um 1 milhão de habitantes".
Blogs - Os blogs dos dois coletivos são os seguintes: www.odoze.blogspot.com e www.nucleodecriacaododirceu.blogspot.com.
O e-mail do "O 12" é odoze@hotmail.com e os telefones, caso haja patrocinadores interessados são: 9722-2716 ou 8115-4683.
(por Wilson G. Júnior para a Folha de Votorantim, em 22/07/2008)
(foto: Marcos Ferreira)
quinta-feira, julho 31
segunda-feira, julho 28
Self Portrait in a Hotel Room 16:30
Pensando em Agamben e em corpos mataveis, despriorizados, corpos de segunda, terceira, a margem da margem, passando longe de qualquer dignidade de ser humano, o que diria de cidadão.
Sobrevidas, como já foi colocado, cut-out de si mesmo.
A vida desse tempo parece cada vez mais expurgar esses condenados, as vezes ainda conseguindo deixa-los maquiados, dissimulados no meio de uma sociedade de corrói como soda caustica, aniquilando qualquer possibilidade de existência emancipada.
Em meio a nossas representações cotidianas, nos palcos baratos dessa vida vã, nem mais sabemos quem somos no meio dessas tags que penduramos medrosamente no pescoço:
Somos bonitos e gostosos no chat, sérios e inteligentes em rodas de conversas, anjos e santos quando o assunto e' moral, bons costumes, ética, e nunca falhamos em sermos engraçados e divertidos so pra relaxar porque ninguém e' de ferro.
Sobrevidas, pedaços de papelão que sobram das caixas onde guardamos tao ritualisticamente nos mesmos, empacotados nesse medo assustador.
sexta-feira, julho 25
TORNAR A VERGONHA AINDA MAIS VERGONHOSA ENTREGANDO-A AA PUBLICIDADE. 21:18
MAS ESSA E' A MERCADORIA IDEAL, QUE OBRIGA A COMPRAR TODAS AS OUTRAS.
quinta-feira, julho 24
Orquideas 21:05
As orquideas sao os seres mais complexos do reino vegetal, assim como nos somos os mais complexos do reino animal.
quarta-feira, julho 23
Rogerio Ortiz 21:20
Noites de Sao Paulo. Luzes, frio e arranha-ceus. Amigos, Baladas, Vista de um predio de apartamentos. Viadutos do centro da Cidade. Olhar Terno em Corpo Animal. Ensaio com e a companhia do fotografo Rogerio Ortiz.
domingo, julho 6
Joaquina, A Imperatriz que Danca 20:00
Ainda sobre dona Joaquina, porque nao consigo me curar de tanta beleza, de tanta dignidade em um corpo dancante.
Dona Joaquina e' uma senhora de mais de 80 anos que frequenta as classes de "Alfabetizacao do Corpo" orientadas por Bid Lima e Soraya Portela para pessoas da terceira idade no Teatro do Dirceu. Recentemente durante a mostra do Dirceu a turma de 35 senhoras e 1 senhor, apresentaram uma peca resultado desse primeiro semestre de aula, e dona Joaquina, a participante mais idosa do grupo, apresentou um solo que me fez (re)pensar todo o trabalho feito ali.
Fazendo uma ponte entre a dancarina do Dirceu e o inventor do Butoh , Tatsumi Hijikata, consigo enxergar o que o mestre japones queria dizer quando dizia que "o nascimento e' o inicio da nossa morte, passamos a vida dancando essa morte ja anunciada". Hijikata dizia dancar o corpo morto, "um cadaver apenas de pe" e sua danca era sombria, sempre ecoando o prenuncio dessa morte.
Dona Joaquina comecou a dancar no chao, alongando um corpo pouco flexivel pela idade e falta de habito, mas com uma graciosidade e elegancia visivel e sem o impeto de ego que impera em bailarinos jovens. Abriu e levantou os bracos, tocou o chao em silencio, apoiou os pes no chao, tudo com uma tranquilidade e um sentimento ritualistico verdadeiro, nao estilizado. Apoiando-se no chao e desdobrando o corpo consegue se erguer verticalmente, como uma arvore fincada, como o cadaver que se poem de pe em Hijikata, como que para enaltecer a vida, dizer assim: Estamos em pe porque estamos vivos, ou vice-versa, como que determinando que aquela e' a posicao-situacao do vivo, por mais simples e banal que seja.
A danca de dona Joaquina foi uma das mais lindas que ja vi sendo dancada naquele Teatro, pela precisao, a delicadeza, a entrega daquele corpo ao lugar-momento, pela economia e utilizacao do esforco, por me deixar ver uma existencia, mostrada com transparencia e despojamento, sabendo exalar uma beleza que nao se classifica, nao se comenta ou questiona, de tao densa e profunda que e'.
Sua filha tambem participante da classe, esteve ao lado dela durante o solo, atenta e cuidadosa mas sem interferir nem um momento, apenas protegendo aquela danca ou aprendendo com ela. A danca acabava com ela vindo ate o meio do palco, juntando as maos no peito, curvando levemente o corpo pra frente e ficando em silencio alguns instantes. Um gesto tao conhecido como simbolo religioso pode se transformar em gesto apenas de humildade e sincero agradecimento (sem conotacao com deuses ou dogmas), certeza de uma conexao maior com o universo e com tudo que existe de absoluto. E me pergunto se nao esta justamente ai o sentido do dancar, e a maravilhosa possibilidade de transcendencia do corpo que danca.
quinta-feira, julho 3
Jose Evelin (1916-2008) 22:07
Morre meu avo, o ultimo que eu tinha. Ja nao tenho avos, se foram todas, e olha que eu tive tres. Me encontro mais uma vez diante de um corpo morto, o silencio irrevogavel, a certeza de que houve uma vida, mais agora nao ha mais, apenas o registro da vida no rosto, nas maos e nesse estado de completo abandono. O presenciar esse estado que dura pouco, a companhia do meu avo morto, eu presenciando esse estado unico agora do meu avo. Nao paro de pensar na vida, na do meu avo que agora nao tem mais - e e' estranho essa certeza de nao ter a vida -, mas na minha tambem e na de todos, ou penso simplesmente nessa coisa de que temos vida enquanto a temos, e isso nos identifica e nos coloca nessa posicao, a de vivos. E talvez essa posicao, a de vivos, aconteca assim apenas porque sabemos que temos morte, porque sabemos que estamos no lado "cara" da moeda, mas que certamente vira o lado "coroa", o outro lado, essa especie de vice-versa. Olho para as pessoas e penso assim: Iremos todos, e todos aqui sabem de certa maneira o que isso vai significar. Sabem o que significa, porque essa certeza da morte nao deixa de afetar a vida, de determinar de alguma maneira esse estado de estar vivo, como se uma nao existisse sem a outra, um par que ja esta formado e danca pelo salao, porque na verdade ja vivemos todos os dias essa morte naquilo que conhecemos por vida.