quinta-feira, julho 3
Jose Evelin (1916-2008)
Morre meu avo, o ultimo que eu tinha. Ja nao tenho avos, se foram todas, e olha que eu tive tres. Me encontro mais uma vez diante de um corpo morto, o silencio irrevogavel, a certeza de que houve uma vida, mais agora nao ha mais, apenas o registro da vida no rosto, nas maos e nesse estado de completo abandono. O presenciar esse estado que dura pouco, a companhia do meu avo morto, eu presenciando esse estado unico agora do meu avo. Nao paro de pensar na vida, na do meu avo que agora nao tem mais - e e' estranho essa certeza de nao ter a vida -, mas na minha tambem e na de todos, ou penso simplesmente nessa coisa de que temos vida enquanto a temos, e isso nos identifica e nos coloca nessa posicao, a de vivos. E talvez essa posicao, a de vivos, aconteca assim apenas porque sabemos que temos morte, porque sabemos que estamos no lado "cara" da moeda, mas que certamente vira o lado "coroa", o outro lado, essa especie de vice-versa. Olho para as pessoas e penso assim: Iremos todos, e todos aqui sabem de certa maneira o que isso vai significar. Sabem o que significa, porque essa certeza da morte nao deixa de afetar a vida, de determinar de alguma maneira esse estado de estar vivo, como se uma nao existisse sem a outra, um par que ja esta formado e danca pelo salao, porque na verdade ja vivemos todos os dias essa morte naquilo que conhecemos por vida.
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Marcelo Evelin
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