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sábado, março 14

Pattay e Luis sobre Homo Sacer



No meu processo de entender as questoes referentes ao "corpo" do "Itens de Primeira Necessidade" recorro ao Google para expandir o meu entendimento da figura (ou seria sombra?) do "Homo Sacer" de Agamben.

Encontro muita coisa interessante, como diria, idéias e imagens que partem da complexidade dos textos de Agamben, mas que se personalizam, viram opinioes escritas ou visuais individualizadas.

Encontrei o trabalho fotografico da Americana Pattay, que se inspirou na ideia de HS para coloca-lo em imagens (As fotos desse post). No blog da fotografa a maioria dos comentarios vai para o fato de estar escrito na parede da foto amarelada, a palavra "Maricones" (viado, bicha), o que ela reafirma fazer parte da ideia de HS atual.

No Blog do Portugues Luis (Tudo o Mais), achei um texto que me pareceu bastante esclarecedor e abrangente sobre a condicao do HS. (re-publico aqui). Atentar para a ortografia Portuguesa, pois...

Thanx to you two, for images and texts.

No proximo post, tem uma brincadeira de comparar e misturar textos, resenhas, posts, fotos e ilustrações, para tentar entrar por outros lados nesse ser matavel, sagrado, estado de exceção corporalizada.

Inauguro o espaco do blog como arquivo de pesquisa para

Itens de Primeira Necessidade



AUSCHWITZ COMO 'NOMOS' DA MODERNIDADE?

A tese é do filósofo italiano Giorgio Agamben, apresentada no livro Homo Sacer (HS), onde propõe que se considere o campo de concentração como matriz, nomos, do espaço político da modernidade. O aparecimento campo de concentração veio alterar significativamente a natureza do Estado-nação. Este deixou de ser o lugar onde se articulam um território, uma ordem jurídica e regras especificas de vida social, para se tornar num instrumento que toma para si a vida biológica da nação. Com o campo de concentração, o sistema politico deixa de organizar, como até então, as formas de vida e a normas jurídicas, num determinado território, para constituir uma ‘localização dissonante’, o campo propriamente dito, onde toda a vida e toda a norma pode ser tomada e subvertida (Cfr HS 7.7). O campo como ‘localização dissonante’ é, segundo Agamben, a matriz escondida da politica actual, um espaço que se manifesta, em todas as suas metáforas, em realidades tão prosaicas como ‘as zonas de acolhimento’, para imigrantes ilegais, dos aeroportos, ou certas áreas das grandes cidades, verdadeiros espaços de reclusão e exclusão. A reflexão de Agamben reveste-se da maior importância se tivermos em conta, por exemplo, que, ainda recentemente, o Governo italiano de Berlusconi decidiu isolar os campos de imigrantes romenos, na periferia de Roma, identificando sistematicamente as pessoas que entram e saem. Os exemplos de ‘excepção dissonante’ multiplicam-se noutras paragens. Desde a exigência de identificação biométrica, para entrar nos Estados Unidos, até aos campos de detenção de imigrantes na Europa… a biopolitca tornou-se, na tese de Agamben, na matriz da modernidade. Historicamente, o campo de concentração nasceu do estado de excepção - a suspensão temporária dos direitos e garantias dos cidadãos. Com o tempo, o campo de concentração tornou-se no lugar onde a norma ficou definitivamente indiscernível da sua excepção. Onde não é possível distinguir o licito, do ilícito, o legal, do ilegal, o justo do injusto (cfr.HS 7.3). Agamben identifica, então, o elemento constitutivo da excepção, que o campo representa. Quando a ordem jurídica normal é suspensa, a acção dos agentes já não pertence a uma ordem jurídica, nem pode ser avaliada, ou determinada, pela lei. As atrocidades, o seu grau de brutalidade, ou bonomia, já não dependem de uma ordem jurídico-política, nem de eventuais disposições legais, mas apenas do grau de ‘civilidade’ do agente da autoridade, que representa provisoriamente o poder soberano. O grau de arbitrariedade, de discricionidade da autoridade constitui o aspecto mais visível do estado de excepção. A excepção como lei materializada no campo de concentração, tem tido exemplos eloquentes nos últimos anos. É o caso do campo de Guantanamo. Guantanamo não representa apenas um território de excepção, fora da ordem jurídica americana ‘normal’, por assim dizer, que garante os direitos constitucionais dos seus cidadãos. A excepção de Guantanamo tornou-se a regra e exemplo do estado de excepção, que se tem alastrado não só nos Estados Unidos, mas também noutros países democráticos. O Patriot Act, o reforço o poder discricionário das autoridade, a possibilidade de prender alguém sem culpa formada, são algumas medidas tomadas depois do 11 de Setembro, que, no essencial, continuam em vigor hoje em dia, mesmo depois da eleição de uma nova administração americana, e que exemplificam o crescente estado de excepção da vida politica actual. Com um dado novo e inquietante, quanto ao futuro. O progresso tecnológico tem-se colocado ao serviço da politica de excepção. Não trata na exigência de dados biométricos que, dentro do paradigma do campo, representam uma espécie de ‘tatuagem bio-politica’, na expressão de Agamben. Uma forma de identificação compulsiva, que engloba dados biográficos e biológico e que se está a tornar na ‘normalidade’ dominante dos países democráticos. Neste aspecto o futuro que a bio-politica nos reserva parece ainda mais sombrio. É já possível hoje constituir gigantescas bases de dados, capazes de registar dados biográfico e biométricos de um individuo, como também de reconstituir e retraçar a vida, através do rasto que cada um deixa no uso das novas tecnologias, desde as compra por cartão de credito, viagens, registos on line, inscrições, tudo é susceptível de encerrar cada um dentro de um campo cibernético, que materializa as novas e futuras formas de controlo da ‘vida nua’. É bem possível que, no futuro, a tecnologia seja utilizada numa escala nunca vista, como instrumento de controlo absoluto da vida dos cidadão. Um instrumento bio politico de potencialidades ilimitadas, e que se arrisca tornar-se na matriz futura do espaço politico.

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