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domingo, fevereiro 8

Berlim East And West
















quinta-feira, fevereiro 5

Teaching in Amsterdam


terça-feira, fevereiro 3

Catástrofes e Montanhas de Lixo



Movimentos que surgem em corpos como que saídos - ou no meio - de uma catástrofe.
Procuro catastrofe no dicionario e nao me satisfazem as definicoes, muito fatalistas, embora eu esteja consciente do elemento de fatalidade nas catastrofes.

Como tratar uma situacao - acidental - que aparece no corpo, traduzida pela busca de algo que seja real, presente e que possa interessar ser trazido pra discussao.

Me interessa esse estado de suspensao - que identifico como estado de catastrofe - como que voltando de algo, acordando, e ao mesmo tempo incrivelmente desperto. Quase uma constatacao do corpo funcionando, como se a vida fosse retomada.

Resta saber se a catastrofe acontece dentro ou fora do corpo, ou se o corpo e' apenas atravessado pela tensao que gera a catastrofe ou e' decorrente dela. Ou seria uma tensao no espaco que determina um estado para o corpo, como se esse tivesse que se adaptar fisicamente a aquele espaco.

Bauman cita Calvino e suas cidades invisíveis. Uma cidade cercada de montanhas de lixo, de dejetos, que os habitantes nao querem se dar conta e nada fazem para deter o crescimento diario do lixo, do que vem sendo descartado por eles, jogado fora, todos os dias.

Montanhas de lixo. E dai Bauman lanca a ideia do dejeto humano, e traz essas montanhas de lixo para o nosso quintal.
Diz que o ser humano contemporaneo vive o grande medo de ser jogados fora, descartado, e passar a viver numa montanha de lixo. Uma metafora forte, mas muito palpavel nos dias de hoje.

O que seria um dejeto humano no mundo em que vivemos?
E' uma condicao meramente social, ou tambem pessoal e fisica?

Quais sao seus itens de primeira necessidade?

sábado, janeiro 31

CorPo ConCreto










Koen, Shani, Judith, Jolike, Anna, Xavier, Oysten, Renee, Klara

As aulas da mime school questionam o corpo em situacoes concretas, o corpo que produz significados reconheciveis, que se torna legivel, o corpo que reformula a ideia de abstracao e subjetividadde para dizer algo.

Sao nove alunos vindos da holanda, franca, alemanha, republica tcheca, noruega, israel e grecia. Essa torre de babel vem a contribuir enormemente para a ideia de meaning (significado) no e pelo corpo, e como pensar isso em termos de mundo versus criacao em arte contemporanea.

Nos debatemos ha 3 semanas com a procura de uma entrada e de um entendimento comum e fundamentado sobre o que seria o concreto que buscamos. O concrreto que nao seria o obvio, o literal, o ilustrativo, e que viesse e fosse apresentado no corpo. Surge ai a questao do "de onde vem" a situacao concreta, como alcança-la e desenvolve-la corporalmente.

Estamos no ponto do entendimento de que precisamos tirar o concreto, o meaninful, o legivel, de uma investigacao sem ponto de partida, sem indicacao de tema ou questao, sem nenhum direcionamento previo. O Corpo que se move em busca de suas proprias questoes, ideias e posicionamentos - concretos embora subjetivos? - e que lhes aborda no lugar onde se estao passando, fazendo dessa abordagem o proprio ato criador.

Abordar tem sido pra nos estar consciente, se dar conta, poder escolher e decidir, reconhecer e direcionar.


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quarta-feira, janeiro 28

Klara Alexova





Klara veio de Praga, onde se formou na escola de danca, para estudar na escola de Mimica de Amsterdam.
Acaba de ganhar uma bolsa para uma residencia no Brasil, em Teresina, junto ao Centro de Criacao do Dirceu.
A residencia vai hospedar sua nova criacao, um solo criado para ela mesma sob minha colaboracao e orientacao, seu projeto final de graduação.

Ela esta pesquisando o espaco entre o sonho e a realidade, o que e' sonho e o que e' realidade, e como podemos distinguir e acessar essas duas zonas. Vem se encontrando com um terapeuta Yungiano especializado em sonhos, que diz ser um sonho apenas um outro tipo de realidade, construida segundo moldes muito semelhantes ao que conhecemos por realidade. Quer dizer, o que se sonha e' parte da realidade construida, e a realidade se constroi com o mesmo material do sonho.

Klara vem anotando os sonhos e sua realidade diaria, e comparando-os a nivel textual.
Tem observado ai uma similaridade entre ritmos de acoes e acontecimentos em paralelo.
Eu diria que o corpo precisa ocupar essa linha tenue entre duas dimensoes, ser a fissura dessa desagregacao, o fator referencial incorpado em si mesmo.

Trabalhamos em janeiro e fevereiro na Hogeschoool voor de kunsten em Amsterdam
e no Dirceu entre marco e abril de 2009.

domingo, janeiro 25

Arte Contemporanea x Capitalismo da Comodidade



A conversa sobre o "velho" no "novo" na arte contemporanea, uma serie de 8 lectures sobre o tema, abriu para uma sala lotada na ultima terca-feira no Stadsschouwburg em Amsterdam. Se apresenta como um "conferencia interdisciplinar" acontecendo mensalmente de Janeiro a Setembro de 2009.

Future Lectures
New Subversion 21 January
New Knowledge 10 February
New Virtuosity 24 March
New Centre 14 April
New Idealism 14 May
New Beauty 22 June
What is New? 15 September

Fala-se de beleza, romanticismo, virtuosidade, subversao, estado das coisas, comodidades capitalistas, suspensao, liberacao do capitalismo, subjetivacao nos processos de arte contemporanea e criatividade artistica, necro politics como opcao para bio politica, deathscpaces e os mortos-vivos, desregulacao e desprivatizacao.

A primeira teórica a falar, Marina Gržinić, da Eslovaquia, ja chegou perguntando o que e' que queriamos falar de subversao, sentados em um Teatro Burguês. Em um inglês péssimo, citou Achille Mbembe de cabo a rabo e fuzilou:
So existem duas possibilidades para subversao, ou seja,
DES-COLONIZAR e
DES-LINKAR
(a Arte do Capitalismo).

O segundo da noite, o Inglês mestiço Michael Uwemedimo, atacou:

- De onde vem o novo, a novidade?

Falou de conjunções, de fusões, subversões, ate chegar na complexidade e na Simultaneidade.

- Quantos anos tem o velho que voce esta considerando?

Falou de novas formas de comodidade, que conhecimento acontece por repetição, e que subversão nos tempos antigos era sinônimo de cataclisma, de catástrofe.
Se despediu do palco no dia seguinte da posse do Obama dizendo que "Capitalismo progride através de crises, e que subversão e' um estado de persistencia".

sábado, janeiro 24

Gaza Days : Cadwalk in The Life of Spetacle


In “Necropolitics”, Achille Mbembe discusses the spatial demarcations of the state of exception as the geopolitical demarcation of zones, and the more recent mobilisation of the war machine.

[…] in modern philosophical thought and European political practice and imaginary, the colony represents the site where sovereignty consists fundamentally in the exercise of a power outside the law (ab legibus solutus) and where “peace” is more likely to take on the face of a “war without end.”








Gaza Days : Deathscape in Large Scale



A batalha das bombas e a guerra das informações


Paulo José Cunha
Jornalista

Toda cobertura de guerra é a possível, nunca a ideal. Será mais isenta, objetiva e completa à medida que a imprensa tenha acesso aos fatos e às fontes. Em alguns confrontos, a limitação de acesso ao cenário real das ocorrências — como as que o governo de Israel vem impondo ao trabalho dos repórteres em Gaza — empurra a cobertura para aspectos periféricos, comprometendo a formação de uma opinião isenta. Na impossibilidade de cobrir a guerra, cobre-se a antiguerra, os arredores, os aspectos que guardam relação (mesmo que remota) com o conflito, mas não a guerra propriamente dita, em sua essência de morte e destruição, em sua natureza de confronto de ideologias políticas, de choque de interesses econômicos, de divergências religiosas, de disputas étnicas.

Nunca se produziu tanta matéria sobre brasileiros na Faixa de Gaza ou em Telavive. Claro que esse tipo de informação aproxima a cobertura da vida do homem comum, põe o consumidor de informação “dentro” do conflito. Mas pouco ou quase nada acrescenta à compreensão da real dimensão dos fatos; às consequências de curto, médio e longo prazo; à importância do conflito no concerto geopolítico mundial e de sua repercussão em escala planetária. Ademais, nunca se viu, ouviu ou leu tanta notícia sobre a excelente relação que israelenses e palestinos mantêm em Pindorama.

Todos os dias sai matéria sobre palestino amigo de judeu. O diabo é que isso tudo é dito, escrito e exibido como se a relação cordial e amistosa tivesse um grão de cevada a ver com a divergência histórica que mantém seus povos em pé de guerra no Oriente há dezenas de anos. E tome declarações melosas como “é preciso dar uma chance à paz”, “somos povos irmãos, como isso pode estar acontecendo?”, “esta é a terra onde Jesus nasceu e cresceu” e chorumelas equivalentes. Ou seja: na impossibilidade de cobrir o conflito em sua inteireza, o jeito é comer o mingau pelas beiradas.

Afinal, é preciso botar o jornal na rua, garantir a audiência do telejornal, manter o radiouvinte ligado na notícia. Mas nem só de fotos de explosões de bombas sobrevive um jornal, nem só de imagens de bombas se garante a audiência de uma emissora de tevê, nem só de informes oficiais e sons de bombas vive uma emissora de rádio. Então, tome historinha do “prima” que gosta de jogar baralho com Salim. De Salim que frequenta mesquita e de palestino que frequenta sinagoga. Belos exemplos de civilidade e tolerância. Uma gracinha. Só que o buraco é mais embaixo.

Que os palestinos usam escolas e hospitais como depósitos de bombas, fazendo as crianças de escudos humanos, todo mundo já sabe e se enoja. Que Israel tem um poderio bélico zilhares de vezes superior ao dos palestinos que vivem em Gaza, meu sobrinho Pedro de sete anos pode dar uma aula a respeito. Mas, além das bombas de alto poder de destruição e pontaria, lançadas irresponsavelmente por Israel contra Gaza, e dos foguetes de péssima pontaria e baixo poder destrutivo, quase domésticos, lançados irresponsavelmente pelos palestinos de Gaza contra aglomerados urbanos israelenses — o que mais se sabe sobre essa guerra? O número de mortos? Quem garante que essa contagem merece algum crédito?

A editora de Opinião do Correio Braziliense, Dad Squarisi, conhece Gaza. Ela me disse que Gaza é assim como uma avenida W-3, que se estendesse da Rodoviária a Planaltina. Uma faixa mesmo. Com a diferença de que se trata de uma faixa de casas amontoadas, um acampamento, um ajuntamento de 1,5 milhão de pessoas mal-acomodadas. Se já é difícil contar as vítimas de um incêndio num prédio de quatro andares, como acreditar nos números absolutamente precisos de mortos e feridos numa área onde cai bomba pra todo lado, o acesso da imprensa é controlado, quando não proibido? Que papo é esse?

A par disso, os dois lados estão envolvidos numa guerra bem mais sofisticada — a guerra da informação. E nessa guerra há uma contradição com a qual o governo de Israel não está sabendo lidar. Já se firmou a convicção de que não se trata de uma guerra, mas de um massacre, na medida em que morrem quase 100 palestinos de Gaza (maioria absoluta de civis), para cada israelense. Por falta de acesso às imagens reais, aquelas que são captadas de forma independente, a opinião pública internacional vem sendo bombardeada por imagens e fotos geradas e distribuídas pelo Hamas.

Ou seja: Israel está mil pontos à frente na disputa bélica, mas exposto ao mundo como algoz que impõe as maiores aflições ao povo palestino, com a morte de crianças em escolas, de doentes em hospitais alvejados por bombas de fósforo, com a destruição de instalações de abrigo da imprensa. Na lógica de que os fins justificam os meios, o primeiro-ministro Ehud Olmert cinicamente alega que Israel protege suas crianças, e os palestinos não. Simples assim. De sua parte, o Hamas alega a desumanidade israelense por patrocinar bombardeios que matam civis de todas as idades.

Israel vence galhardamente a batalha das bombas, no que os especialistas consideram um conflito assimétrico diante da espantosa inferioridade das forças do Hamas. Mas vem perdendo de forma devastadora a guerra da opinião pública. Se a estratégia é a de se fortalecer ao máximo para negociar uma trégua em condição de superioridade, ninguém pode garantir que, na civilização da informação, a superioridade bélica superará o desgaste da imagem de Israel como país responsável por um massacre divulgado em rede mundial.

Life ItSelf







Bio-Power and Necro-Politics



Reflections on an ethics of sustainability



Rosi Braidotti



The context

Contemporary debates in the fields of social theory and cultural analysis have been concentrating on the politics of life itself, with special emphasis on the shifting boundaries between life and death. Bio-power, as Foucault argued,[1] refers not only to the government of the living, but also to multiple practices of dying. »The politics of life itself« designates the extent to which the notion of bio-power has emerged as an organizing principle for the proliferating discourses that make technologically mediated »life« into a contested political field.[2] Living matter itself becomes the subject and not the object of enquiry and this shift towards a bio-centred perspective affects the very structure and the interaction of social relations.

One of the manifestations of this historical context is what has been called the genetic social imaginary.[3] This is manifested in the market economy through a tendency to use a terminology borrowed from genetics and evolutionary theory for the purpose of commercial and political discourses. An instance of this is the emphasis on the »next generation« of gadgets, cars and consumers’ electronics. Contemporary media and culture also spreads a sort of genetic citizenship as a form of spectatorship by promoting the visualization of the life of genes in medical practices, popular culture, cinema and advertising. Another aspect to this phenomenon is the uses of genetics in political debates on race, ethnicity and immigration, as well as public debates ranging from abortion and stem-cell research to new kinship and family structures. Discourses about vitalism[4] and vital politics are also circulating.

Issues of power and power relations are central to this project. The notion of »life itself« lies at the heart of bio-genetic capitalism[5] as a site of financial investments and potential profit. Technological interventions neither suspend nor do they automatically improve the social relations of exclusion and inclusion that historically had been predicated along the axes of class and socio-economics, as well as along the sexualized and racialized lines of demarcation of »otherness«. Also denounced as »bio-piracy«,[6] the ongoing technological revolution often intensifies patterns of traditional discrimination and exploitation. We have all become the subjects of bio-power, but we differ considerably in the degrees and modes of actualisation of that very power.

This explosion of discursive interest in the politics of life itself affects also the question of death and new ways of dying. Bio-power and necro-politics are two sides of the same coin.[7]

»Life« can be a threatening force, as evidenced by new epidemics and environmental catastrophes that blur the distinction between the natural and the cultural dimensions. Another obvious example of the politics of death is the new forms of industrial-scale warfare, the privatization of the army and the global reach of conflicts, specifically the case of suicide bombers in the war on terror. Equally significant are the changes that have occurred in the political practice of bearing witness to the dead as a form of activism, from the Mothers of the Plaza de Mayo to humanitarian aid. From a post-human perspective comes the proliferation of viruses, from computers to humans, animals and back.

Relevant cultural practices that reflect this changing status of death can be traced in the success of forensic detectives in contemporary popular culture. The corpse is a daily presence in global media and journalistic news, while it is also an object of entertainment. The dislocation of gender roles in relation to death and killing is reflected in the image of women who kill, from the revival of classical figures like Medea and Hecuba to Lara Croft.

A rather complex relationship to death has emerged in the technologically mediated universe we inhabit: one in which the link between the flesh and the machine is symbiotic and therefore establishes a bond of mutual dependence. This engenders some significant paradoxes: the human body is simultaneously denied, in a fantasy of escape, and strengthened or re-enforced. Balsamo[8] stresses the paradoxical concomitance of effects surrounding the new post-human bodies as enabling both a fear of dispossession and a fantasy of immortality and total control: »And yet, such beliefs about the technological future ›life‹ of the body are complemented by a palpable fear of death and annihilation from uncontrollable and spectacular body-threats: antibiotic-resistant viruses, random contamination, flesh-eating bacteria«.[9] In other words, the new practices of »life« mobilize not only generative forces, but also new and subtler degrees of extinction.

These concerns have both the neo-liberal[10] and the neo-Kantian thinkers[11] struck by high levels of anxiety about the sheer thinkability of human future. In opposition to this, I would like to defend the politics of »life itself« and approach these phenomena in a non-normative manner. They are the social manifestations of the shifting relation between living and dying in the era of the politics of »life itself«.

In opposition to the nostalgic trend that is so dominant in contemporary politics and also to a tendency to melancholia on the part of the progressive Left ,[12] I want to argue that the emphasis on life itself can engender affirmative politics. For one thing it produces a more adequate cartography of our real-life conditions: it focuses with greater accuracy on the complexities of contemporary technologically mediated bodies and on social practices of human embodiment. Furthermore, this type of vitality, unconcerned by clear-cut distinctions between living and dying, composes the notion of »zoe« as a non-human yet affirmative life-force. This vitalist materialism, inspired by Deleuze’s philosophy, has nothing in common with the postmodern emphasis on the inorganic and the aesthetics of fake, pastiche and camp simulation. It also moves beyond »high« cyber studies[13] into post-cyber materialism.[14] More on this in my conclusion.