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quinta-feira, junho 25

Music and Him



Michael Jackson
1958-2009


Acho que comecei a ouvir musica, - nao a que os meus pais ouviam em casa ou a das festinhas de crianca - com "Music and Me". Comecei a ouvir musica no inicio dos 70, com aquela melancolia rebelde da epoca, e a incompreensao do que viria a ser "ser alguem" totalmente incorporada.
"Music and Me" tava no disco de capa azul - um dos meus primeiros discos LP - dos 5 irmaos negros e americanos. A musica virou o hit do disco, a mais melosa, e eu cantava alucinadamente sem ter nenhuma ideia do que eles diziam, enrolando a lingua e fechando os olhos embalado no som do michael.
Acho que ja falavam na epoca de como as criancas tinham que seguir cantando a mando do pai, fazendo turnes e trabalhando horas por dia sem poderem desfrutar de suas infancias.

Michael cresceu e virou Star, dancava de um modo que so ele sabia dancar, e dancava muuuuuito, de uma forma impressionante. Criou o "passo" Moon Walk que virou uma marca de estilo, uma referencia para a street dance que surgiria logo ali. Fez o clip "Bad" que tambem e' uma referencia, com aqueles zombies fakes pessimamente maquiados e ele esfarrapado-fashion comandando a zombiezada, numa versao realmente bad dele.

Michael comecou a ficar estranho, e passou a ser assunto controverso na midia das celebridades. Fazia operacoes pra afinar o nariz e varios tratamentos quimicos para clarear a pele, ou seja, ficar branco. Virou rato de laboratorio, cobaia de experiencias estranhissimas, vivia coberto de esparadrapos e veus fugindo do sol. Ficou amigo intimo da atriz Elizabeth Taylor (ela deve ta bem mal) e comecou a se parecer com ela, diziam que os cirugioes o estavam operando pra ter a cara da amiga Elizabeth.

Comecou a entrar naquele estagio sombra, se isolou e passou a ser quase lendario, sem aparecer em lugar nenhum, daquela maneira que a gente comeca a se perguntar se ainda esta vivo ou ja morreu, se e' gente mesmo ou imagem virtual. Adotou umas criancas de nomes estrambolicos, nao deixava que ninguem as visse, cobrindo as criancas com capas e veus ate que a imprensa o acusou de sentar um dos bebes na janela de um predio de forma perigosa e irresponsavel. Dai foi um salto para toda a estoria de pedofilia que passaram a lhe acusar, com processos e escandalos na imprensa e o mundo abalado com o astro pop que bulinava garotinhos.

Lembro do videoclip do "Black or White" sendo lancado na MTV. Naquela epoca nao tinha You-Tube nem dvd e a coisa da music television tava pegando mesmo, impulsionada pela pop music of the world e os incriveis avancos do Video Technology. Foi mais ou menos o inicio dos bares com tvs ligadas em canais de musica, e a tv ligada o dia inteiro em casa com aquelas imagens em movimento entrando em profusao.

O "Black and White" trouxe uma questao certeira, muito pertinente na epoca: A ideia de globalizacao e multiculturalismo. Estavamos comecando a falar de intercambio de culturas, hibridismo cultural, identidades mesticas, mundo coletivo, no matter if you're black or white.
Michael cantava saltando glamourosamente de um lugar para outro, da India pro meio da selva, de New York pra Moscou coberto de neve, misturado a indios Apaches e dancarinas de katakali no meio das guerras, saindo das chamas dos bombardeios branco e esvoacante com seu cabelinho muito liso ao vento.
Acredite se quizer mais era o maximo!

Sou avisado da morte dele no FaceBook, com alguns comentarios do tipo "e ele ja nao estava morto?". Talvez sim. Mais hoje vira oficial, passa de lenda mitica a corpo socorrido em hospital com o coracao parado, vira gente real, morre de parada cardiaca. E como diz o Ricardo Marinelli "da um vazio esquisito" na gente, principalmente naqueles que, quer queira quer nao, conviveram quase quarenta anos com music and him.

O que faz um coracao parar de bater?
No caso dele acho que foi solidao.

Pra ver o Black or White
http://www.youtube.com/watch?v=ZI9OYMRwN1Q
(nao sei salvar como link, sou do tempo do surgimento do Jackson Five)

3 comentários:

janalobo disse...

pensar que michael morreu eh como pensar que estamos mesmo em outro tempo.
Pra mim eh um fato que fecha um ciclo (o rei do pop), uma industria (fonografica), um tempo mesmo.
Nao sei como falar mas eh estranho.

L.H. disse...

Eu apareci aí no meio dessa trajetória, já nos anos 80. Mas claro ainda me conectei a fase "bum" anos 90 do rei do pop.

Pra mim o curioso, que me dá uma sensação estranha, é essa sensaçao de que as pessoas da nossa geraçao vão morrendo e a gente vi se dando conta de que também tá "passando"...

Claro se pode morrer a qualquer instante...mas essa relação com "sou do tempo do Jackson Five" ou sou do tempo do "He-Man" é além de nostálgica angustiante: "e aí o que voce ja fez? o que você já fez?"

E parece que as pessoas se conectam a isso...a morte, a espetacularização toda, à disparada de compras de cd, ao bum de donwloads como se fossem tentassem se agarrar a esse tempo...que na verdade já foi.

Se lá é estranho mesmo.

Raimundo daZoliveira disse...

os zumbis não são do "bad", são do "thriller".







fabio crazy