Quando pude votar com a maioridade morava no Rio com um titulo de Teresina e tive que justificar o voto.
Nesse tempo nao se votava para presidente, e aquelas passeatas batendo panela nas ruas do Rio pedindo diretas ja! pareciam uma utopia.
Fui embora do Brasil e justiquei meu (nao) voto na embaixada do Brasil em Paris, quando o Brasil elegeu Collor. o gala promissor, desastre ecologico.
Muitas vezes fui a embaixadas em Rotterdam, justificar voto, ate que enchi o saco de justificar o que nao tinha feito, e nem podia fazer, ausente do momento politico do Brasil.
Quando Lula foi eleito eu estava no Brasil, sem titulo, numa nacionalidade "entre", em tournee com dois espetaculos holandeses numa mostra holandesa no Brasil. O embaixador holandes achou melhor nos convidar para sua casa, territorio holandes, no dia da eleicao, dizendo sutilmente que preferia ter seus holandeses - entre eles eu, holandes do Paraguay - debaixo da protecao das leis do pais europeu.
Me vi carregando numa van domingo de manha para a casa chic do embaixador, enquanto pessoas passavam com bandeiras vermelhas do PT, me sentindo ridiculo.
De noite saimos pra avenida Paulista e vimos de frente o primeiro discurso do Lula como Presidente da Republica do Brasil. Eu nunca vi nada igual, impossivel descrever aquela emocao, junto com aqueles milhoes de brasileiros tocados a esperança. Choravamos, os poucos brasileiros da equipe local, basicamente eu, a tradutora e o motorista da van, e quando vimos os holandeses estavam aos prantos, sem entender nada alem de uma traducao que se deu por acabada frente a situacao. Eles compreenderam exatamente o que se passava naquele momento no Brasil, porque estava tudo absolutamente exposto ali na carne.
Hoje fui votar na hora do almoço, curioso com a situacao.
Tava ate nervoso, do tipo de quem vai fazer um exame desconhecido pela primeira vez.
Nao sabia o numero do candidato, tive que dizer que era minha primeira vez tentando justificar o mico, explicando a situacao, o homem disse que era por isso que eu tinha um sotaque de americano (!!!!!!), eu disse que nada meu senhor, ta me confundindo, eu sou brasileiro!
Fui pra detras da caixinha ja estudando o formato da tal caixa de papelao que legitima o voto pessoal e secreto e digitei tudo cuidadosamente como se nao pudesse errar, senao ficava reprovado por quatro anos.
Senti ate uma emocao, juro, uma coisa estranha, solene, uma coisa de ritual, uma puta responsabilidade de repente.
Desculpem a pieguice mas eu tinha estreiado como cidadao brasileiro, no palco turbulento das bananas, das palmeiras e dos sabias.
1 comentários:
nossa marcelo, que massa!!! se eu morresse antes de ontem eu morreria sem saber que tu nunca tinha votado. bacana saber que te deu essa "emoção" porque a impressão que dá hoje em dia é que arte e política são coisas que não conseguem se misturar, oque eu acredito ser um grande engano e auto-sabotagem.
bjo
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